Cecília Mota é apontada como presidente de fachada de diversas entidades que teriam se beneficiado do esquema
A advogada e servidora pública aposentadaCecília Rodrigues Mota é apontada pela PF (Polícia Federal) como uma das envolvidas no suposto esquema de fraudes no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Segundo as investigações, ela realizou33 viagens internacionais, entre janeiro e novembro de 2024, a destinos como Dubai, Paris e Lisboa.
Entre os acompanhantes, havia pessoas que teriam recebido recursos de empresas ligadas a Cecília. Em um dos casos, um dos suspeitos chegou a viajar 15 vezes para Lisboa, em Portugal. O R7 entrou em contato com a advogada e aguarda resposta. O espaço segue aberto.
Em outro episódio, uma mulher que se apresentou como faxineira viajou para Dubai e recebeu mais de R$ 353 mil de uma empresa também vinculada à advogada. “Nesse contexto, reforçam-se as evidências de conexão entre os operadores financeiros do esquema investigado e as viagens por eles realizadas”, aponta o documento da PF.
Para a corporação, Cecília atuou como presidente, de forma simultânea, em duas associações investigadas entre março de 2017 e fevereiro de 2020. Ainda conforme a PF, há indícios de que pessoas físicas e jurídicas ligadas a ela receberam R$ 14 milhões dessas entidades associativas e de empresas intermediárias a elas relacionadas.
Movimentações suspeitas
As investigações também apontaram movimentações financeiras suspeitas em empresas ligadas à advogada. “Observa-se que seu comportamento transacional é caracterizado pela rápida entrada e saída de recursos, demonstrando pressa na evasão dos valores recebidos, deixando saldo irrisório nas contas em comparação com o volume financeiro movimentado no período”, aponta o relatório.
Entenda
A operação da PF e da CGU foi deflagrada na última terça (22) e cumpriu 211 mandados judiciais, incluindo ordens de busca e apreensão, sequestro de bens, avaliados em mais de R$ 1 bilhão, e seis mandados de prisão temporária. As investigações apuram um esquema nacional de cobranças indevidas em benefícios do INSS.
Conforme as apurações, aposentados e pensionistas foram alvo de descontos não autorizados de mensalidades associativas, aplicados diretamente sobre os valores de aposentadorias e pensões. O prejuízo estimado chega a R$ 6,3 bilhões, acumulados entre os anos de 2019 e 2024. Ao menos 11 entidades são suspeitas.
Ainda não se sabe quanto desse valor foi indevidamente descontado e quanto tinha autorização dos beneficiários.
Os investigados poderão responder por corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A apuração das autoridades levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento de servidores.
Dois dias depois da operação, representantes do INSS e da CGU informaram a suspensão dos descontos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas por convênios com entidades, como associações e sindicatos. A pausa é por tempo indeterminado, até a conclusão da análise de cada acordo, para a identificação dos descontos irregulares.
Segundo o ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, para reorganizar o sistema de desconto e torná-lo mais rígido e seguro, é necessária a suspensão de todos os acordos de cooperação técnica vigentes, celebrados pelo INSS com entidades nos últimos anos.
“O governo vai ressarcir o que foi descontado irregularmente. Isso estará em um plano que será apresentado em breve”, declarou Carvalho.
O ministro não informou, no entanto, quando nem como esse ressarcimento será feito. Segundo Carvalho, o governo federal elabora um plano para identificar os descontos fraudados e permitir as devoluções.
O planejamento, que deve ser apresentado “em breve”, como afirmou o ministro, vai detalhar o total dos valores que serão ressarcidos e o formato das reposições.
Fonte: R7
Foto: Reprodução/CRM Advogados/Arquivo