A creatina é um dos suplementos nutricionais mais estudados e populares do mundo, consolidada por décadas de pesquisa que comprovam sua eficácia na melhora do desempenho físico, força e ganho de massa muscular. No entanto, um campo de pesquisa emergente e fascinante tem voltado os holofotes para um outro órgão extremamente demandante de energia: o cérebro.
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A ciência começa a desvendar como a creatina pode desempenhar um papel importante não apenas na saúde muscular, mas também na função cognitiva e no bem-estar neurológico. Este artigo irá explorar, com base em evidências científicas, os mecanismos por trás desses efeitos duplos, ressaltando sempre que a suplementação de qualquer substância, incluindo a creatina, deve ser feita exclusivamente sob a orientação de um profissional de saúde qualificado
Como a creatina funciona como uma “bateria de recarga rápida” para os músculos?

Para entender o papel da creatina, primeiro é preciso falar de energia. A moeda de energia imediata de todas as nossas células é uma molécula chamada ATP (Trifosfato de Adenosina). Durante exercícios de alta intensidade e curta duração, como um sprint ou um levantamento de peso, os músculos consomem ATP em uma velocidade altíssima.
É aqui que a creatina entra. Cerca de 95% da creatina do corpo é armazenada nos músculos na forma de fosfocreatina. Essa molécula funciona como uma bateria de recarga instantânea. Ela doa rapidamente seu grupo de fosfato ao ADP (difosfato de adenosina, o “resíduo” do ATP gasto), regenerando o ATP quase que instantaneamente. Conforme aponta o posicionamento da International Society of Sports Nutrition (ISSN), essa capacidade de regenerar energia rapidamente é a principal razão pela qual a creatina melhora a força e a potência muscular.
Por que o cérebro também precisa dessa mesma “recarga rápida” de energia?

O cérebro, embora represente apenas cerca de 2% do nosso peso corporal, consome impressionantes 20% da nossa energia metabólica em repouso. Tarefas cognitivamente exigentes, como resolver um problema complexo, aprender uma nova habilidade ou até mesmo lidar com o estresse da privação de sono, demandam uma quantidade imensa de energia na forma de ATP.
Assim como os músculos, o cérebro também utiliza o sistema ATP-fosfocreatina para uma rápida reciclagem de energia. Quando os níveis de energia cerebral estão baixos ou quando a demanda é muito alta, a capacidade cognitiva pode ser prejudicada. A hipótese científica é que, ao aumentar os estoques de creatina no cérebro através da suplementação, seria possível melhorar a disponibilidade de energia para os neurônios, apoiando assim a função cerebral.
O que as pesquisas sugerem sobre os efeitos da creatina na função cognitiva?
A pesquisa sobre os efeitos cognitivos da creatina é mais recente e menos consolidada do que a pesquisa sobre seus efeitos musculares, mas os resultados são promissores. Os estudos se concentram em situações onde o metabolismo energético do cérebro está sob estresse.
Melhora da memória de curto prazo e raciocínio
Alguns estudos sugerem que a suplementação de creatina pode melhorar o desempenho em tarefas que exigem memória de trabalho e raciocínio rápido, especialmente em indivíduos com níveis de creatina naturalmente mais baixos, como vegetarianos, ou em situações de estresse.
Redução da fadiga mental
Assim como ajuda a combater a fadiga muscular, a creatina pode ajudar a reduzir a fadiga mental durante tarefas cognitivas prolongadas e exigentes, mantendo os níveis de energia cerebral mais estáveis.
Apoio em condições de estresse
Pesquisas indicam que os benefícios cognitivos da creatina são mais pronunciados em condições que estressam o cérebro, como a privação de sono ou a hipóxia (baixo oxigênio). Nessas situações, a energia extra pode ajudar a manter a performance cognitiva.
Potencial neuroprotetor
Esta é uma área de pesquisa muito inicial, mas estudos em laboratório e em animais sugerem que a creatina pode ter propriedades neuroprotetoras, ajudando a proteger os neurônios contra danos. Pesquisas exploram seu potencial como terapia adjuvante em casos de lesão cerebral traumática e em algumas doenças neurodegenerativas.
A suplementação de creatina é segura? Quais os cuidados necessários?
A creatina monohidratada é o suplemento com o maior volume de estudos de segurança e eficácia. Para indivíduos saudáveis, quando usada nas doses recomendadas, ela é considerada segura. O mito de que a creatina causa danos renais em pessoas saudáveis foi refutado por inúmeros estudos de longo prazo. O aumento da creatinina no sangue, um marcador de função renal, é um subproduto esperado do metabolismo da creatina e não um sinal de dano renal em indivíduos saudáveis.
No entanto, a segurança depende da saúde prévia do indivíduo. Pessoas com doença renal preexistente devem evitar a suplementação, pois seus rins podem não ser capazes de lidar com a carga extra. O principal efeito colateral relatado é um leve desconforto gastrointestinal em algumas pessoas, e é fundamental manter uma hidratação adequada ao usar o suplemento.
Por que a orientação profissional é indispensável antes de suplementar com creatina?
A decisão de tomar qualquer suplemento nunca deve ser feita por conta própria. A orientação profissional é essencial para garantir a segurança e a eficácia.
- Um médico deve ser consultado para uma avaliação geral da saúde, especialmente para verificar a função renal através de exames de sangue, antes de iniciar o uso. Ele pode garantir que não há contraindicações para você.
- Um nutricionista é o profissional qualificado para determinar se a suplementação é realmente necessária com base em sua dieta e objetivos. Ele pode orientar sobre o tipo correto de creatina (a monohidratada é a mais estudada), a dosagem adequada (seja com ou sem fase de carga) e como integrá-la à sua alimentação para otimizar os resultados e minimizar riscos.
Lembre-se, a creatina é uma ferramenta, não uma solução mágica. Seu uso deve ser parte de um estilo de vida que inclui uma dieta balanceada, exercícios regulares e sono de qualidade.
Fonte: Correio Braziliense